Dulce Aguiar Cavalcante e Silva
AFLAM - Cadeira 18
AFLAM - Cadeira 18
Acordei muito tarde para as letras e, por puro impulso, despertei para o mundo das palavras, caindo nos braços mágicos das frases.
Andei vagando por muito tempo sem encontrar um píer para acostar meu barco. Deixei-o à deriva para que o tempo se encarregasse de tudo. Em vão, permeei a caixinha de surpresas que é a vida para que ela, por si só, emergisse de mim.
Em vão, precisei ir à luta. Tomei em meus dedos um bom toco de lápis e fui à caça. Com ele rabisquei metros e metros de folhas em branco que, de tão brancas, cegavam-se os dedos, embotavam-me o desejo de transpor para elas tudo o quanto me irradiava a alma.
Entretanto a peça era mais espeta do que meu rudimentar instrumento de sedução. Parei, pensei, organizei em minha cabeça o que realmente queria dizer e, continuando, deixei à sanha de folhas em branco o que ao longo da vida guardei: os poucos e inesquecíveis amores juvenis, os risos, as gargalhadas, as inquietações de menina; os castigos severos, mas necessários, do papai, embasados em seu espírito de retidão; a proteção, sempre a tempo, de minha querida mãe e seu exemplo de guerreira, de trabalhadora, transformando e nem esquecer o pouco que tinha nas mãos em um rico legado de lições de vida que não dá para desprezar e nem esquecer; os sábios conselhos de minha avó, que eu não entendia direito e desdenhava, as suas belas histórias sobre o Amazonas, Rio Negro e o Solimões.
Levei tempo para compreender e assimilar a alma manauara daquela mulher. Hoje quero pedir-lhe perdão por toda a minha insensatez. Quando se é adolescente ou jovem, pensa-se ser o centro do universo, um ser imortal, que nada alcança, e o perigo é mero trampolim encantado a ser desfiado, o dia-a-dia da vida, uma farra eterna.
Não foi diferente comigo, só o mundo era outro, mais conhecido e reconhecido nas terras banhadas pelo Jaguaribe, um mundo mágico, mais ameno, menos contestador, de calma e benevolência ilimitadas.
Tive filhos e os criei como achei certo e pude colocar a cabeça no travesseiro com a alma envolta na paz do dever cumprido, pois decerto dei ao mundo Cidadãos de bem, de princípios morais ilibados e com todas as boas referências de cidadania que procurei incuti-lhes.
Busquei verdades, palavras não muito sérias para expressar o algo muito sério das convenções, das leis de convivência, do peso social e da moral, com a sensibilidade escondida nas lhanuras da alma romântica e sonhadora.
Não cheguei a nenhum veredicto em que pudesse ficar o libelo dos meus sentimentos escritos, e dos que pediam enjaulados sob cláusulas consensuais – eram por demais frágeis e incabíveis para o arremate natural do que eu ousara pensar em meus sonhos dados como absolutos
Hoje, estou no limiar de um novo milênio, a dizer coisas ou tentando desvendar, a duras penas, e por vezes em momentos incríveis, um mundo que passa em frente a minha poltrona azul e a tentar elevar-me com toda as suas nuances e matrizes.
Prazerosamente, divido com vocês esse momento e espero que consigam captar, nas entrelinhas, esse meu mundo.
Andei vagando por muito tempo sem encontrar um píer para acostar meu barco. Deixei-o à deriva para que o tempo se encarregasse de tudo. Em vão, permeei a caixinha de surpresas que é a vida para que ela, por si só, emergisse de mim.
Em vão, precisei ir à luta. Tomei em meus dedos um bom toco de lápis e fui à caça. Com ele rabisquei metros e metros de folhas em branco que, de tão brancas, cegavam-se os dedos, embotavam-me o desejo de transpor para elas tudo o quanto me irradiava a alma.
Entretanto a peça era mais espeta do que meu rudimentar instrumento de sedução. Parei, pensei, organizei em minha cabeça o que realmente queria dizer e, continuando, deixei à sanha de folhas em branco o que ao longo da vida guardei: os poucos e inesquecíveis amores juvenis, os risos, as gargalhadas, as inquietações de menina; os castigos severos, mas necessários, do papai, embasados em seu espírito de retidão; a proteção, sempre a tempo, de minha querida mãe e seu exemplo de guerreira, de trabalhadora, transformando e nem esquecer o pouco que tinha nas mãos em um rico legado de lições de vida que não dá para desprezar e nem esquecer; os sábios conselhos de minha avó, que eu não entendia direito e desdenhava, as suas belas histórias sobre o Amazonas, Rio Negro e o Solimões.
Levei tempo para compreender e assimilar a alma manauara daquela mulher. Hoje quero pedir-lhe perdão por toda a minha insensatez. Quando se é adolescente ou jovem, pensa-se ser o centro do universo, um ser imortal, que nada alcança, e o perigo é mero trampolim encantado a ser desfiado, o dia-a-dia da vida, uma farra eterna.
Não foi diferente comigo, só o mundo era outro, mais conhecido e reconhecido nas terras banhadas pelo Jaguaribe, um mundo mágico, mais ameno, menos contestador, de calma e benevolência ilimitadas.
Tive filhos e os criei como achei certo e pude colocar a cabeça no travesseiro com a alma envolta na paz do dever cumprido, pois decerto dei ao mundo Cidadãos de bem, de princípios morais ilibados e com todas as boas referências de cidadania que procurei incuti-lhes.
Busquei verdades, palavras não muito sérias para expressar o algo muito sério das convenções, das leis de convivência, do peso social e da moral, com a sensibilidade escondida nas lhanuras da alma romântica e sonhadora.
Não cheguei a nenhum veredicto em que pudesse ficar o libelo dos meus sentimentos escritos, e dos que pediam enjaulados sob cláusulas consensuais – eram por demais frágeis e incabíveis para o arremate natural do que eu ousara pensar em meus sonhos dados como absolutos
Hoje, estou no limiar de um novo milênio, a dizer coisas ou tentando desvendar, a duras penas, e por vezes em momentos incríveis, um mundo que passa em frente a minha poltrona azul e a tentar elevar-me com toda as suas nuances e matrizes.
Prazerosamente, divido com vocês esse momento e espero que consigam captar, nas entrelinhas, esse meu mundo.
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