Dulce Aguiar Cavalcante
AFLAM - Cadeira 18
Tu és o nosso Tâmisa
Tu és o nosso Sena
Tu és um braço do Amazonas
E te debruças na esquina
Leste do Atlântico
Como um mendigo.
Deixa o sepulcro
De lixo que te abonaram
Deixa o ostracismo
Lugar que te colocaram
Levanta e anda.
Deixa que a água limpa
Cuide do peixe
O cardume há de seguir
Onde se bandeia o rio
Torça pela volta da piracema,
Subindo afoita.
Deixa a vegetação ciliar
Acordar do sono injusto
E mostrar nas frondes: os brotos,
A quantos haverão de vir
Levanta e anda.
Cuida do teu filho,
Afluente franzino.
Cuida das cabeceiras,
É tua mãe que agoniza.
Cuida da tua irmã margem,
Neste instante grita
Ao vento a dor dissonante
Do abandono e do desleixo.
Ouvirão-te alguns poucos
Deixa a água da chuva te engravidar
Em todos os invernos
Para que a vida procrie
Reproduza-se em teu leito.
E espera, a perenidade se dá...
Levanta e anda.
Nenhum comentário:
Postar um comentário