quarta-feira, 17 de agosto de 2011

DISCURSO - ELOGIO À PATRONA DA CADEIRA 12 DA AFLAM

    MARIANA NEUMAN VIDAL DA COSTA

Senhora Presidenta da Academia Feminina de Letras e Artes Mossoroense (AFLAM), todas as mulheres aqui presentes sintam-se citadas e homenageadas.
Senhor Flavinho de Tarso pelo qual saúdo os demais homens presentes nesta Praça.

É importante que esta minha fala, a qual mais que um discurso é uma reflexão, inicie com o resgate histórico da minha opção em indicar Mariana Neuman Vidal da Costa, como Patrona da Cadeira 12 da Academia Feminina de Letras e Artes Mossoroense, da qual sou a Primeira Ocupante.

A opção da indicação e do generoso aceite das diletas Acadêmicas esteve respaldada na constatação e no reconhecimento da importância que as ações profissionais de Neuma Vidal tiveram para a história da Enfermagem, da saúde e da Educação mossoroenses.

Foram ações impactantes e compromissadas com a transformação e com a legitimidade dos direitos dos cidadãos e das cidadãs, de terem acesso iguais ao trabalho, a saúde e a educação, com dignidade.

Falar de Neuma Vidal, então, é falar de um projeto de enfermagem inovador que como afirmou a professora e enfermeira Luzia Cecília de Medeiros, em entrevista a mim concedida, o projeto profissional de Neuma Vidal se fundamentava em concepções que iam além do tempo por ela vivido. Neuma pensava e agia além do contexto local. Ela via, pensava e construía os significados das coisas e para as coisas de uma maneira tão peculiar que só a ela era possível compreender.

O seu merecimento de ocupar o lugar de Patrona da cadeira 12 da AFLAM, legitima-se pelo seu engajamento nas lutas organizativas da saúde, da enfermagem e da universidade.

Como enfermeira participou em nível nacional e local do Movimento Participação da Enfermagem, nos anos 80, com críticas contundentes à ABEN (Associação Brasileira de enfermagem). Para Neuma e o Movimento Participação, a ABEN precisava sair da condição de mera reprodutora das políticas oficiais e de interesses do setor industrial médico-hospitalar, para construir um “Projeto Político-Profissional”, que atendesse a todos os segmentos da enfermagem, de forma organizada socialmente e participativamente comprometido com a atualização "científico-cultural" das enfermeiras, pautado em reflexões político-profissionais sobre a atuação da entidade e o papel da profissão, no cenário histórico-social vigente.

A preocupação de Neuma era com uma enfermagem participante da formulação das políticas públicas relativas ao setor saúde. Com isso, ela provocou a criação do Sindicato dos enfermeiros e das enfermeiras de Mossoró, tendo sido a sua primeira coordenadora;
Mobilizou a categoria para a institucionalização do conselho municipal de saúde, construindo espaço de assento para a ESEM (Escola Superior de Enfermagem de Mossoró), hoje FAEN (faculdade de enfermagem de Mossoró);
Institucionalizou a ABEN Regional de Mossoró, tendo, inclusive assumido por dois mandatos a representação da Comissão de Educação na ABEN estadual e nacional.

Demarcou conceitos significativos para a Educação e Ensino da Enfermagem com significativa produção da Monografia do curso de Especialização em Metodologia da Assistência de Enfermagem e da Dissertação do Mestrado em Enfermagem da qual participei como integrante da banca examinadora.

A saúde materna muito deve a Neuma, pois foi ela a primeira enfermeira, em Mossoró, a discutir e divulgar a importância do aleitamento materno para a criança e para a mãe se deslocando, inclusive para a zona rural para desenvolver ações educativas nesta área da enfermagem, na comunidade da então MAISA.

A saúde mental, seu foco nos primórdios da sua atuação como enfermeira, teve seus primeiros passos com a atuação de Neuma no hospital são Camilo de Léllis.

Mas, companheiros e companheiras aqui presentes nesta praça, se eu fosse falar de todas as contribuições sociais, culturais e científicas da Patrona da Cadeira 12 da AFLAM teria que passar horas a fio desfiando os seus feitos. Mas, esta não é a minha intenção; bem porque, a nobre platéia encontra no elogio que aqui distribui e no livro sobre sua biografia e história de vida, os detalhes impactantes da atuação profissional de Neuma Vidal.

A importância deste momento histórico da minha participação da AFLAM impõe, também, o registro da Neuma Vidal, pesquisadora, estudiosa e escritora quando esteve sempre presente em eventos nacionais e locais divulgando suas idéias e seus trabalhos.

Fui sua parceira em várias pesquisas sobre ética, enfermagem, educação, ensino e sociedade.
Fui sua parceira e ouvinte quando ela queria ter momentos de simplicidade e retrospecção crítica, no ambiente humilde da minha casa, mas que mergulhado de livros para fundamentar suas construções teóricas e paradigmáticas.

Eram os seus momentos de pé no chão sem se preocupar com as aparências da elite social!
Varávamos as nossas noites, estudando, pesquisando, escrevendo (e muitas vezes chorando) para apresentar nossos trabalhos em eventos como: Seminário Internacional da Enfermagem, Seminário Nacional sobre Pesquisas e pesquisadores da enfermagem, congressos brasileiro em enfermagem, congresso estadual de enfermagem, semana brasileira da enfermagem, todos de grande projeção social, científica e cultural.

Quisera eu ter condições financeiras para neste momento estar apresentando e divulgando o tanto que de produção nós fizemos!
Este, no entanto, é o momento que digo: Senhores! Senhoras! Eis, apenas, alguns, dos muitos triunfos produtivos de Neuma, ao abraçar um projeto e um ideal nos quais muito acreditou. Colocou-o entre as mãos e os braços e conduzi-o até o fim, com fidelidade à causa da Enfermagem, da saúde, da educação e da vida. Ela foi feliz porque acreditou e materializou o seu projeto de vida!

Por tudo e muito mais, este é um dos muitos e significativos resultados da sua prática, tão marcada por ciência e história de vida que foi interrompida ainda em construção.

As suas conquistas os seus retrocessos a sua capacidade coletiva de construir uma profissão competente tecnicamente, com intervenções críticas e criativas e principalmente, reconhecidas socialmente como aliadas da maioria da população, na defesa do direito à saúde e à vida é o que a faz merecedora de ser a patrona da Cadeira 12 da AFLAM.

Quero, senhores e senhoras, finalizar, utilizando as sábias palavras da escritora Gabriela Mistral, que Mariana Neuman Vidal da Costa tanto citava nos seus escritos: "Todo o país escravizado por outro ou outros países, tem na mão, enquanto souber ou puder conservar a própria língua, a chave da prisão onde jaz".
Portanto,
Onde houver uma árvore para plantar, planta-a tu. Onde houver um erro para emendar, emenda-o tu. Onde houver um esforço de que todos fogem, fá-lo tu. Sê tu aquele que afasta as pedras do caminho.
Neuma Vidal foi a cidadã que gritou em silêncio e se rebelou contra os erros da sociedade, com muita ação profissional e produção intelectual e social.
Obrigada
Taniama Vieira da Silva Barreto - Cadeira 12
Vice-presidenta da AFLAM
17.08.2011

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