ENTREVISTADO - DIÓGENES DA CUNHA LIMA – PRESIDENTE DA ACADEMIA NORTE-RIO-GRANDENSE DE LETRAS
Entrevista executada pela Acadêmica e Jornalista
Izaíra Thalita da Silva Lima, Cadeira 8 da AFLAM

Diógenes da Cunha Lima é essencialmente um poeta. Seus livros em prosa têm influência de sua visão poética, presente em toda sua obra. Começou sua carreira de escritor aos 31 anos e aceito como imortal aos 34. Aos 45 anos já era presidente da ANL - Academia Norte-rio-grandense de Letras.
Seus livros são resultados de intensas pesquisas históricas, culturais e geográficas, utilizados de forma agradável, lírica e didática.
Diógenes é também autor de ensaios que foram incluídos em obras de outros autores. Escreveu prefácios e orelhas de muitos outros livros, inclusive de Câmara Cascudo. Para além da atividade de escritor, Diógenes já se tornou personagem em obras de ficção de grandes nomes da literatura nacional; como João Ubaldo Ribeiro, que escreveu o Livro de Histórias, usando o poeta de Nova Cruz como inspiração; além de As Pelejas de Ojuara, escrito por Nei Leandro de Castro, amigo do poeta. Publicado em 1986, o livro ganhou a versão cinematográfica pelas mãos do diretor Moacir de Góis, importante cineasta no Brasil com o título de “O homem que desafiou o diabo”.
É um amante das árvores, das folhas, das flores, das estrelas, dos pássaros, do mar, das memórias e da vida. Para o poeta Diógenes, a vida sem poesia é pura escuridão. Aos doze anos, lia quadrinhos como Shazon e Doutor Silvana, Reco-Reco, Bolão e Azeitona e os clássicos literários, formando aos poucos seu repertório pessoal: Manuel Bandeira, Murilo Mendes, Cervantes, Luís de Camões. Deste último, leu a obra completa com violenta participação, como se ele fosse o autor. No entanto, o impacto literário inicial veio da poesia de cordel, literatura popular muito presente em Nova Cruz. Agora se propõe a escrever para as crianças como o livro que fez com a sua filha Cristine “Cascudinho, o menino feliz” (editora Cortez) o primeiro de muitos garante ele.
A entrevista com o presidente da ANL é mais uma conversa do que propriamente uma entrevista, pois ele fala de sua amizade com Câmara Cascudo e da admiração por Mossoró. Confira:
AFLAM EM REVISTA – Sendo um bom filho do agreste, de origem simples, que lembranças você tem da sua infância em Nova Cruz?
DIÓGENES - Eu saí de Nova Cruz com treze anos. Até hoje Nova Cruz não sai de mim. Tive a infância alegre e divertida dos meninos do interior. Com imaginação construíamos os nossos brinquedos: carrinhos, times de botão de quenga de coco, boi de barro, bola de meia, bozó feito de batata. Meu pai e os cantadores da feira lançaram-me na poesia. O trem era uma alegria. As pessoas marcantes pareciam-me eternas.
AFLAM EM REVISTA – Como foi seu primeiro encontro com Câmara Cascudo e que influências ele teve na sua trajetória profissional e como escritor?
DIÓGENIS - Meu pai me disse que em Natal havia um rio chamado Luís da Câmara Cascudo, o resto era tudo riacho. Fui logo visitá-lo. Toquei a campainha e Anália me perguntou: “O que você quer menino?” – Vim conversar com Câmara Cascudo. Ela me disse que ele estava ocupado, mas eu insisti e Cascudo veio me receber, sorrindo, no alto da escadaria. Encantou-me. Recebeu os folhetos que eu levara para ele. Disse que meu pai tinha olho de xexéu. Deu-me uma cestinha de índio e um chocolate sonho de valsa.
AFLAM EM REVISTA – O que você destacaria (um fato que recorda) nessa amizade com Câmara Cascudo?
DIÓGENES - A primeira vez que considerei um homem inteiramente feliz, alegre, sábio, acolhedor, um porto seguro. Emprestava-me livros, alguns de autores gregos e latinos, que eu deveria ler, para lhe fazer um resumo e perceber o que eles se referiam ao Brasil.
AFLAM EM REVISTA – Certa vez ele teria lhe dito: “Diógenes não está sozinho. Ele é um grupo”. Que pessoas você considera que lhe influenciam na forma de escrita, nos gostos pela literatura e música?
DIÓGENES - Antes de qualquer outro, o Mestre. Muitos e muitos outros. No momento, lembro-me de Machado de Assis, Pitigrili, Vargas Vila, Dostoievski, Pablo Neruda, este para mim o maior poeta das Américas. Na música, Chico Alves, Ademilde Fonseca, o então menino Aguinaldo Rayol. Depois, Villa Lobos, Oriano de Almeida.
AFLAM EM REVISTA – Como você observa a aproximação das Academias de Letras no RN e a sociedade?
DIÓGENES - As Academias são elites culturais. Como tal, fazem crescer a sociedade e as pessoas, mas também despertam admiração e inveja.
AFLAM EM REVISTA – E a presença das mulheres nas Academias Femininas como é o caso da AFLAM?
DIÓGENES - A Academia Norte-rio-grandense de Letras já foi fundada em 1936 (muito antes a Academia Francesa e da Brasileira) com a presença feminina. Entre os patronos estavam Nísia Floresta, Auta de Souza e Isabel Gondim. Foram as primeiras Acadêmicas Palmira e Carolina Wanderley. As mulheres não são apenas a metade mais bonita da humanidade, mas a metade mais apta à percepção dos seres humanos em suas relações. Encanta-me a participação feminina nas Academias, inclusive da AFLAM.
AFLAM EM REVISTA – O que deve ser fundamental para o presidente de uma academia de letras?
DIÓGENES - Intelectual é bicho difícil! Diferente uns dos outros. Um presidente de Academia deve procurar harmonizar tendências, pacificar discussões, mas, sobretudo, estimular a produção cultural.
AFLAM EM REVISTA – Após diversas publicações você lança um livro voltado para as crianças em parceria com sua filha, ‘Cascudinho, o menino feliz’. Como se deu a ideia desse livro infantil e como foi a sua elaboração junto com Cristine?
DIÓGENES - Há muito tempo que eu imaginava Cascudo estudado pelos jovens. A Editora Cortez deu-me alegria convidando-me e a Cristine. A parceria funcionou.
AFLAM EM REVISTA – O livro tem uma importante editora, a Cortez. Como está sendo a aceitação do livro pelo Brasil?
DIOGENES - No lançamento foram vendidos 319. A Secretária de Educação de São Paulo examina a possibilidade de adotar em suas escolas. A PUC de Perdizes/SP vai apresentar um grande painel sobre Câmara Cascudo e a infância brasileira. O Secretário de Educação de Natal, o mossoroense José Walter Fonseca, também deseja fazer.
AFLAM EM REVISTA – Que histórias verdadeiras de Cascudo são destacadas nessa obra?
DIOGENES - Destacamos a vivência, o ensinamento de valores de Câmara Cascudo, a sua preocupação na formação da personalidade.
AFLAM EM REVISTA – Existem projetos para outros livros voltados para as crianças?
DIÓGENES - Já comecei a anotar Clara Camarão. Penso em Nísia Floresta e na Princesa Isabel, ícone, a primeira mulher que governou o Brasil. E bem. Durante quase quatro anos.
AFLAM EM REVISTA – O que gosta mais: Prosa ou poesia?
DIÓGENES - Começo o meu dia lendo poesias. Sem ela, a vida é chata, absurda, difícil de ser compreendida. A poesia tem a beleza das curvas, a prosa é retilínea.
AFLAM EM REVISTA – Sobre um dos seus projetos o Itajubar Clube Espaço Cultural e Clube Gourmet?
DIÓGENES - A casa número 63, estilo Art Noveau da Rua Chile, foi onde nasceu, viveu e fez um pequeno circo o poeta maior Ferreira Itajubá. Estava em ruínas. Pedi, sem êxito, à Prefeitura e ao Estado que tomassem providências. Nada. Adquiri o imóvel, restaurei e comecei a sonhar. Os dois projetos não morreram. Foram adiados.
AFLAM EM REVISTA – Que livro te marcou e por quê?
DIÓGENES - O Libro de las Preguntas, póstumo, de Pablo Neruda. São perguntas líricas, instigantes, impensadas, atentam. Outro é o Pequeno Príncipe de Saint Exupèry, grande fábula humanamente tocante, filosofia.
AFLAM EM REVISTA – O que está lendo agora?
DIÓGENES - Os livros de poesia de Ronaldo Cunha Lima. Estou escrevendo uma biografia do meu primo-irmão, natalense honorário. Destaco as nossas vinculações, parcerias, ligações com Natal.
AFLAM EM REVISTA – Para finalizar, que novos projetos estão sendo pensados ou elaborados agora?
DIÓGENES - São vários projetos. Um deles é a quarta edição do “Câmara Cascudo – Um brasileiro feliz”. Ele contará com um acréscimo de um Dicionário do Humor Cascudiano.
AFLAM EM REVISTA – O que você acha sobre os livros digitais ou e-books?
DIÓGENES - Leio e-books quando não há outro jeito. Gosto do contato físico, de pegar no livro, cheirar até, marcar sublinhando de vermelho.
AFLAM EM REVISTA – Fique à vontade para acrescentar algo que não foi perguntado.
DIÓGENES - Mossoró é uma das cidades da minha admiração. Nessa cidade, quando Secretário de Educação, fiz os primeiro convênios do Estado para manutenção de escolas municipais. Ganhei da Câmara de Vereadores, com Dix-huit prefeito, a cidadania. Fiz, em parceria, uma canção para Mossoró que diz o seguinte:
DIÓGENES - Mossoró é uma das cidades da minha admiração. Nessa cidade, quando Secretário de Educação, fiz os primeiro convênios do Estado para manutenção de escolas municipais. Ganhei da Câmara de Vereadores, com Dix-huit prefeito, a cidadania. Fiz, em parceria, uma canção para Mossoró que diz o seguinte:
MOSSORÓ, MOSSORÓ!
Letra: João Wilson Mendes Melo
Música: Roberto Lima e Diógenes da Cunha Lima
Música: Roberto Lima e Diógenes da Cunha Lima
Mossoró, Mossoró, Mossoró
Eu te amo só, Mossoró, Mossoró
Mossoró, Mossoró, Mossoró
E se estou longe, estou só, Mossoró!
Terra feliz, abençoada pelo sol,
Que aquece a pele e nos esquenta o coração
Noites amenas de luar, de brisa mansa....
Povo que vive a eterna força do verão...
Que aquece a pele e nos esquenta o coração
Noites amenas de luar, de brisa mansa....
Povo que vive a eterna força do verão...
A grande história da bravura que constrói,
Fez-se das lutas e da raça do sertão:
Foram teus filhos, com a coragem dos heróis,
Que, no combate, aqui venceram lampião.
Fez-se das lutas e da raça do sertão:
Foram teus filhos, com a coragem dos heróis,
Que, no combate, aqui venceram lampião.
És nossa terra que nasceu para a igualdade,
Onde a mulher os seus direitos conquistou,
És nossa terra que nasceu pra liberdade
E que os escravos, por primeiro, libertou.
Onde a mulher os seus direitos conquistou,
És nossa terra que nasceu pra liberdade
E que os escravos, por primeiro, libertou.
Vento nordeste traz um sopro de calor
À nova história que o teu povo vai contar,
E a iluminar o teu futuro, o sol do amor
Vem te dizer: sempre haveremos de te amar.
À nova história que o teu povo vai contar,
E a iluminar o teu futuro, o sol do amor
Vem te dizer: sempre haveremos de te amar.
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