quarta-feira, 28 de novembro de 2007

OS FESTEJOS JUNINOS

Maria José Araujo Melo de Sousa
AFLAM - Cadeira 11
        
     Iniciou o mês de junho – ano bom de chuva – muito milho verde, feijão verde, melão, melancia. Água nos açudes, rios, riachos correndo. Pasto para o gado e as ovelhas.
     Quando o ano é bom de inverno, o mês de junho é mais animando ainda. Fica-se na expectativa, aguardando o dia de Santo Antônio (13 de junho), de São João (24 de junho) e São Pedro (30 de junho). Começa-se bem cedo a juntar a lenha para a fogueira. Meu pai gostava muito de fazer enormes fogueiras. Comprava fogos de artifícios, daqueles que nós do Nordeste, chamávamos “cabeça de negro”, bem grandes. Tirávamos, do matagal próximo a nossa casa, galhos de árvores, bem fininhos, para amarramos os fogos.
     Quando chegava a noite das fogueiras, assávamos milho verde, carne de criação, soltávamos os fogos. Como era bonito! Imagine aquela cena: o céu iluminada pela lua e o brilhos dos fogos. Brincávamos de pular fogueira.

     As mulheres faziam adivinhações: enfiavam uma faca virgem na bananeira, colocava água numa bacia, pegavam uma vela branca, benta, acendiam-na e rezando a Salve-Rainha até nos amostre, ficavam esperando os pingos da vela cair na água, porque, de acordo com a crendice, os pingos vão formando as iniciais do futuro marido. Os mais novos chamavam os mais velhos para serem padrinhos ou madrinhas de fogueira. Era mais ou menos assim: ficava-se perto da fogueira, um de frente para o outro, pegando na mão, e falava os seguintes dizeres, três vezes: São João disse, São Pedro confirmou; que você fosse meu padrinho ou madrinha, que Jesus Cristo mandou. Viva Santo Antonio, viva São João, viva São Pedro, viva São Paulo. Pronto estava feito o batismo de fogueira. Era padrinho e madrinha de mesmo, mesmo. Pedia-se a bênção e se tinha a mesma consideração dos padrinhos de pia batismal. De todos os festejos juninos, o melhor que tem é a quadrilha. As mulheres, com saias rodadas, cheias de babados e fitas, as blusas com as mangas de elásticos nas pontas, os tecidos das roupas bem estampadas, geralmente com flores ou qualquer ouro tipo de gravuras bem coloridas. Nos cabelos, as mulheres faziam umas tranças muito bonitas e bem feitas, amarradas com um lenço de fita de seda. Pintavam os olhos, botavam batom.
     Os homens usavam camisas quadriquladas, calças com remendos, quem não tinha bigode ou costeletas de verdade, fazia-os  a lápis ou carvão. Chapéu de palha na cabeça, começava a quadrilha. Uma fila de homens, outra de mulheres de frente uns para as outras.
     - Alavantu.
     - Anarriê.
     Era uma festa! O céu  se iluminava com a queima dos fogos. O pipocar fazia um barulho e meu âvo, que gostava muito de brincar, era muito bem humorado, costumava dizer:
     - Eita! Hoje as raposas vão se esconder dentro dos buracos.
     Onde nós morávamos tinha muita raposa. À noite elas costumavam andas nas plantações e estragavam melões e melancias ainda verdes. Meu pai, muitas vezes saia â noite, pegava a espingarda e dava alguns tiros para o ar, para espantá-las.
     Nós achávamos ótimo ir com ele para ver o corre-corre das raposas.
     No mês de junho, era festa o mês inteiro, tinha as fogueiras de Santo Antonio, dia 13, São João, dia 24 e São Pedro dia 29.
OBS: Este conto foi publicado no Jornal O Mossoroense.

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