quarta-feira, 28 de novembro de 2007

PALEMÓLIUNS E ESCALIBAR, A SANTA PAIXÃO

Maria Goreth Serra de Sousa
AFLAM - Cadeira 5
          
I ATO
ESCALIBAR – Pois então em que você acredita?
PALEMÓLIUNS – Em nada. E só acredito na fundamentação do amor.

ESCALIBAR – E as nogueiras? Aquelas que sombreiam as flores cor de chumbo, de frente para o leste?
PALEMÓLIUNS – Eram de Eudes, quando as cultivava.
ESCALIBAR – pois, então, onde está Eudes, agora?
PALEMÓLIUNS – Semana passada eu as vi em um tom pálido, eram de Eudes.
ESCALIBAR – Você está com medo?
PALEMÓLIUNS – Mas, por que haveria de estar?

ESCALIBAR – Haveria, sim, haveria uns olhos...
PALEMÓLIUNS – Sim, mas eles moraram nos castelos junto à pitombeira, rumo ao nascente.

ESCALIBAR – Deveras, mas você esqueceu a cor deles (dos olhos) ela, não mora nos castelos junto a pitombeira, rumo ao nascente.
PALEMÓLIUNS – Conta, conta, você prometeu.

ESCALIBAR – Está bem. Estava perdida e a encontrei dentro do mar (a cor dos olhos).
PALEMÓLIUNS – Você estava perdida?



ESCALIBAR – Não, eu e ela.
PALEMÓLIUNS – foi bom tê-la encontrado?
 ESCALIBAR – Ainda não sei...
PALEMÓLIUNS – Está ficando um pouco tarde. Você sabe o que é carinho?

ESCALIBAR – Pretendo, só isso. Na manhã de ontem, consegui ver uns filhotinhos se arrastando para a tenda da mamãe deles. Se arrastando, morrenram antes de chegar.
PALEMÓLIUNS – Foi triste, né...Eles morreram?

ESCALIBAR – Não, foi alegre. A tenda estava vazia.
PALEMÓLIUNS – Está amando?
ESCALIBAR – Sinto um reboliço quando ele está comigo. Acho-o um mecânico eficaz.
PALEMÓLIUNS – Sim, então você ama o mecânica?

ESCALIBAR – A oficina dele é um pouco afastada de mim.
PALEMÓLIUNS – E daí?

ESCALIBAR – Sempre.
PALEMÓLIUNS – A, continua distância...
ESCALIBAR – Por meus reboliços, nem sei o que venha a ser continua...
PALEMÓLIUNS – Sim, mas sabe o que vem há a ser distância, não é?
ESCALIBAR – Veja isso é coisa dos seus sonhos, Distância tem sua casinha lá em baixo da colina dos frades. Só me procura para me dar boas-vindas, sei que ela gosta muito dos Thomés e que se dá muito  bem com os homens tyristes da destilaria.
PALEMÓLIUNS – Sinto sono. Acredita que Hermes chorou?
II ATO

PALEMÓLIUNS - Mesmo com as orquídeas, ficou ruim ter que pular a cerca do riachinho.

ESCALIBAR – MAS, O QUE FEZ VOCÊ, ESTÁ SONHANDO?
PALEMÓLIUNS – não, o sonho me propôs partir. Partir para nunca mais. Houve uma época em que eu estava enfeitiçada por ele.

ESCALIBAR – Fez-me um dia Dr. Peixoto. Sentou-se ao pé de mim. Respondia-me uma dor cá, noite adentro... se era tempo de voltar, arquejar um pouco mais e estender os lençóis da madre, me faltava entender.
PALEMÓLIUNS – E o que entendia?

ESCALIBAR – não entendia, era a sua existência.
PALEMÓLIUNS –Ah, é fácil. E ela demorou muito?
 ESCALIBAR – Não, frações de séculos. Séculos um pouco divinais.
PALEMÓLIUNS – Divinais? Então você amava as dores? E o mecânico?

ESCALIBAR – Espere. Leopoldo é que sofreu, coitado...  bonito como um deus, pedindo clemência a outro deus. Acendia seus cigarros Sempre sorrindo. Sinto que nunca caiu. Olhava-me muito, assim como se não estivesse nada vendo, ou como se estivesse vendo os deuses das súplicas. Acho que amei Leopoldo.
PALEMÓLIUNS – E as dores, e o mecânico?

ESCALIBAR – Comecei a correr, era o que me faltava. Os espinhos secos tinham uma suposta vida. Reluziam, tive outro no mar. Mas, as borboletas galopeavam e tive medo de colocar-lhes Espinhos. Quando fui ao bombardeio, passei muitas vezes os dedos pelos cílios e senti-me bem.
PALEMÓLIUNS – Hum... ciscos. Formigando como sarnas espertas, em matéria de anjo mau. Foi isso?
ESCALIBAR – Calos bêbados, se abrindo na superfície da visão. Trajavam prata.
PALEMÓLIUNS – E o que queria bem, e o que queria mal?

ESCALIBAR – Sentava-me à porteira. As vaquinhas tinham leite morno que nem aspargos cozidos com recência. Tocava-lhes as patas e, às vezes, beijava-olhes a mama.
PALEMÓLIUNS – Precisou amar muito?

ESCALIBAR – Passamos estrelas nas mãos, foi um memento. Passamos amor entre dedos e seios e sentamos no fogo das decisões.
PALEMÓLIUNS – Estou só. Disseram-lhe da perfídia de João?
 ESCALIBAR – Estou aqui, não.
III ATO
PALEMÓLIUNS – No fim do ano eu vou para a lua. Vou te mandar um beijo e um abraço.

ESCALIBAR – É? Pois,  eu te abraço e te beijo agora. Tenho medo de que quando te passares a via, tu te esqueças de mim.
PALEMÓLIUNS – Mas, foi dezembro ou setembro que nos fez um para o outro?

ESCALIBAR – Foi agosto. No mês de agosto orgasmei no meio da rua. Lá em cima, tem duas estrelas que choraram quando estamos separados. Elas nos ama.
PALEMÓLIUNS – Conte para elas dos olhos e do sorriso que possuímos quando nos tocamos. Elas brilharão para todo o sempre, aceitarão se recolher na noite da ausência e não chorarão mais.

ESCALIBAR – segunda feira comprei flores.Azuis, lilás. Elas serão pra você. Tudo meu será pra você. O cachorrinho amarela que dorme comigo, meus poemas tristes invernais. Toda vez que tomo conhaque, sonho que estou sonhando com você. Você está sempre sentado e não me toca. È verdade que você não me toca?
PALEMÓLIUNS – Foi julho ou outubro que nos guiou quando estávamos encantados?

ESCALIBAR – Foi agosto. Julho é o seu aniversário e outubro é o meu. Amei agosto. Amo agosto. Queria vive-lo em todos os meses. Agosto foi embora. Foi nele que você gritou que me amava. Astro, tenho medo do dia de você voltar para o universo. Tome mais um gole, não suporto conhaque... E quando você estiver lá, eu lembrarei de agosto. Prometo outra coisa: em julho as estrelas que nos amam, falarão de mim pra você. Você vai brilhar como nunca e eu daqui ficarei te vendo. Você, belo, inocente, sedutor... Você vai brilhas como nunca, e eu daqui ficarei te vendo, pela última vez.

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