sábado, 20 de março de 2010

DISCURSO - SOLENIDADE: " POSSE DA DIRETORIA, PRESIDENTE DE HONRA E LANÇAMENTO DO SITE DA AFLAM"

Magnífico Reitor da Universidade Estadual do Rio Grande do Norte (UERN)- Professor Milton Marques;
Ilustre Vice-presidente da Academia de Letras e Artes do Ceará (ALACE), Gutemberg Liberato de Andrade;
Ilmª. Vice-presidente da Casa Juvenal Galeno, Argentina Austregésilo de Andrade;
Ilustre representante da Academia Feminina de Letras do Ceará (AFELCE), Rejane Costa Barros;
Digna representante da Prefeita Municipal Professora Ieda Maria Xavier
Ilustre Presidente da Academia Apodiense de Letras (AAPOL), Marcos Antonio Freire;
Ilustre Presidente da Fundação Vingt-un Rosado - Coleção Mossoroense, Dr. Dix-sept Rosado Sobrinho Maia;;
Dignas acadêmicas da AFLAM e confreiras e confrades de outras Academias;
Dignos  representantes da imprensa;
Senhores e senhoras.

Minha fala se reveste de GRATIDÃO, podendo ser traduzida por ALEGRIA e FELICIDADE, correspondendo ao que dizia sabiamente Sócrates:“semblantes felizes são aqueles que revelam a luminosidade de ser grato.” 
Imbuída neste espírito, agradeço a MARIA DE FÁTIMA CASTRO, idealizadora e criadora da ACADEMIA DE LETRAS E ARTES MOSSOROENSE, em 17 de agosto de 2007, que teve a iniciativa de me convidar para ser a sua Vice-presidente à PRIMEIRA DIRETORIA.
Agradeço, também, a todas as acadêmicas que instigaram a minha candidatura, dando o seu voto de confiança para eu ser a Presidenta da AFLAM e, sobretudo, a Maria do Socorro Cavalcanti (ex-mestra da graduação em Ciências Sociais da UERN), grande incentivadora que vem, incessantemente, me orientando e guiando a AFLAM, colaborando para o seu desenvolvimento.

Agradeço inclusive, as acadêmicas que aceitaram o meu convite a fazerem parte da NOVA DIRETORIA e que se dispuseram, a contribuir, propondo-se “de mãos dadas”, a levá-la à frente com garra e determinação.
Muitos me apoiaram e me conduziram até chegar a esse espaço onde o feminino irmana-se às letras e as artes, pois nada se faz sozinho. A dependência infinita da pessoa humana, o torna um eterno carente de obséquios.
Desse modo, é imperioso externar a minha gratidão. Acima de tudo a Deus, fonte de sabedoria, que me concedeu os dons literários e artísticos e o espírito de MULHER CORAJOSA, DECIDIDA E DESTEMIDA, próprio das que nascem na terra quente e calorosa do “país de Mossoró”, usando a expressão do saudoso e querido VINGT-UN ROSADO, o grande incentivador da cultura.
Mas, eu não estaria aqui, se não fosse os meus pais, Sabino Maciel Júnior e Isabel de Queiroz Maciel. Meu pai, autodidata, me incentivou na minha carreira profissional. Enquanto minha mãe, como toda mulher do início do século XX, foi dona de casa, esposa amantíssima, mãe exemplar, que  apenas com a 4ª série primária, tinha um conhecimento abrangente, falava e escrevia um português corretíssimo e não admitia os seus filhos falarem e escreverem errado.
Tive o privilégio de ter um ambiente familiar propício ao estudo, cursando até a 2ª série primária com meus pais e irmãos, em casa mesmo. As manas, Donária (Lalala), Dolores (Lolole) tinham escola particular. Além de Tercina e Ítalo (Itinhoin memoriam), me orientarem na parte de redação. Itinho era o meu grande ídolo intelectual, pessoa por quem eu tinha grande admiração diante de sua aguda inteligência. Conversador eloquente e profundo nos seus conhecimentos, grande idealista que me influenciou com o seu pensamento, instigando-me à leitura, orientando-me.
Por fim, não poderia deixar de agradecer a família por mim constituída: marido e filhos, respectivamente, Raimundo Filgueira, Lisane (Lili), Cínara (Cici) e Alano (Laninho), o carinho, o incentivo, o apoio, a união, a interação constante.
Minhas senhoras e meus senhores, as letras e as artes se mesclam e aqui estou para receber os desígnios de presidente desta ilustre Academia Mossoroense de Letras e Artes. Uma distinção que seus ilustres membros me concedem e que tanto me honra. É grande a satisfação que me conferem as acadêmicas ao me admitirem a sua companhia e ao seio desta importante instituição.
Academia reafirma sua capacidade de absorver variados estilos de pensamento feminino, tendências e aptidões artísticas e se afirma como autêntico intelectual coletivo, para usar uma expressão de Gramsci.
Nesse mundo de globalização, em que se percebe o esvaziamento do Estado, a fragmentação da identidade nacional em múltiplas identidades culturais, essa instituição desponta com a inabalável crença de que é forçoso preservar, enriquecer a amada língua portuguesa. Para que por meio sempre de seu intenso uso jamais se esgarce o tecido dos sentimentos brasileiros, as razões profundas do nosso ser nacional. E, igualmente,desponta no intuito de valorizar todas as expressões literárias, artísticas e culturais advindas da MULHER MOSSOROENSE.
Privilegiar a mulher, CRIANDO UMA ACADEMIA FEMININA DE LETRAS E ARTES NESTA CIDADE, não quer dizer relegar os homens devido à longa caminhada de dominação FEMININA, mas, significa reconhecer o esforço da MULHER, ao longo da história, no sentido de construir sua identidade o que lhe outorga um lugar de destaque na vida contemporânea, tornando-se agente de mudança pela função que exerce na sociedade.
Em 1929, Virgínia Woolf já dizia, que “uma mulher precisa de um quarto todo seu para escrever e de dinheiro.” No entanto, mesmo sem essas condições ideais apontadas por essa feminista inglesa, as escritoras brasileiras reagiram, quebraram o silêncio, escreveram, criaram jornais, fizeram peças de teatros, abriram escolas, publicaram livros, poesias, ensaios, artigos, invadindo ruas, praças públicas, cidades como cidadã partícipe de um mundo que na sua dinâmica se redimensiona no dia-a-dia, exigindo posturas e atitudes mais concretas, comportamentos mais ousados e criativos, permitindo assim dar o pontapé inicial de uma revolução no âmbito social, político e cultural, dantes inimagináveis.
Alguns nomes não foram apagados da memória brasileira, como pioneiras na causa da libertação feminina, Adélia da Fonseca, Ana Autran e Nízia Floresta, esta sendo até nome de cidade do Rio Grande do Norte; as que marcaram época na literatura, teatro e jornalismo, Maria Angélica Ribeiro, Carmem Dolôres e Narcisa Amália (a primeira jornalista profissional do Brasil); Bárbara Heliodora, mulher de fibra e personagem ilustre, musa da Inconfidência Mineira, esposa do poeta Alvarenga Peixoto e as poetisas nordestinas, Adélia Fonseca, Inês Sabino, Emília de Freitas, dentre tantas.
Quem não conhece os expoentes da contemporaneidade, Clarice Lispector, Cecília Meireles, Raquel de Queiroz, Adélia Prado, Marilena Chauí, dentre tantas.
Em Mossoró, destacaram-se como pioneiras, Noemi Escóssia (Noemi Dulcila de Souza (1876), esposa do jornalista João da Escóssia, Cordélia Silva (1888), Marieta Gurgel, Maria Escosssilda, Helen Ingersoll, Maria Sylvia Vasconcelos.
E vejam que nesse contexto, as mulheres não tinham acesso às Academias de letras. No Brasil, depois de uma longa batalha, a cearense. Rachel de Queiroz conseguiu entrar na Academia brasileira de Letras (CRIADA EM 1887), substituindo Cândido Motta Filho em 1977, em memorável eleição que marcou o fim do veto às mulheres na Academia.
Contudo, o forte condicionamento imposto à mulher pela cultura e tradição, não a impediu de refletir e pensar e escrever, buscando na literatura e nas artes, uma via para externar suas opiniões, estados de ânimo. Vozes ora românticas, às vezes irônicas e até transgressoras (e não era para menos), buscando, portanto, a questão dos direitos da mulher, da educação, enfim, o direito de escrever, publicar e desenvolver as suas criações artísticas.
Assim, se antes era o homem que desenhava o seu perfil, agora é ela que se revela, com voz própria, estilo próprio, linguagem própria, marcada por uma escrita sensorial, lírica, poética, feita com corpo e alma, expressando-se através da arte musical, teatral, na pintura, na dança, na escultura, visando beneficiar a literatura e a cultura.
Paulatinamente, ela foi se dando conta da importância do seu papel no mundo moderno, se tornando ativa, participativa e atuante como ator fundamental, inserindo-se na vida sócio-política e cultural da sociedade. 
Hoje, a mulher assumiu a faceta de intelectual, de ser político e social sem receios e medos. Mostrou a sua capacidade de liderança, competência e, acima de tudo, está sempre pronta para o diálogo em todas as áreas do conhecimento. Antenada com o século XXI dirige nações, estados, cidades, participa de conselhos e consultorias, ministérios, assessorias, se coloca no mercado como executivas, reitoras e pró-reitoras de universidades, diretoras e chefes de empresas, profissional liberal, sem abdicar do posto de mãe, esposa, dona de casa.
Porém, mesmo diante dos avanços, é lamentável saber que, todas as culturas ainda oprimiam as mulheres de alguma forma. Por isso, é preciso valorizar os combates que as mulheres encamparam. Em muitos lugares, os direitos das mulheres regridem. Não se pode baixar a guarda!
Assim, ainda se tem muito a percorrer no sentido das travessias, caminhos e veredas que precisam ser desbravados, principalmente em termos da educação e conscientização de milhares de mulheres que habitam nos longínquos grotões desse Brasil afora e, por falta de oportunidade não avançaram o suficiente. No entanto, percebe-se que as mulheres, em todas as classes sociais, estão mostrando vontade de galgar posições de destaque, junto com o homem na vida cotidiana.
Mulheres que chegaram lá, em postos de comando, tais como: Michelle Bachelet, no Chile; Cristina Fernandez, na Argentina em se tratando de América Latina. Angela Merkel, na Alemanha, na Europa; na África Ellen Johnson assumiu a presidência da Libéria, Corazón Aquino governou as Filipinas na Ásia, apenas para ilustrar esse quadro. Sucederam presidentes e ministros nos respectivos países e continentes.
No Brasil, as mulheres se destacam como Ministras, Senadoras, Deputadas Federais, vereadoras, faltando apenas uma mulher na Presidência.
Nessa perspectiva, vê-se que as novas gerações irão continuar na luta para a superação de obstáculos, a fim de que as mulheres possam realmente alcançar posições cada vez mais importantes na sociedade, mostrando assim a sua fortaleza e desmistificando tabus e mitos em torno de sua figura.
 Ao me conceder o privilégio de pertencer a esta Academia e de nela conviver com pessoas das letras e das artes e do pensamento mossoroense, vejo-a como uma instituição cultural respeitável, como o local do discurso, da criação artística e literária, onde se pensam e se representam o saber mossoroense e a condição humana. Uma Instituição com regras distintas de ingresso, de trabalho e de convivência, importante como fonte de criação intelectual e artística.

É como mulher, escritora, cidadã brasileira que hoje, com a vontade de Deus, dos membros desta Casa, que confiaram na minha condição feminina, que assumo a presidência da Academia Feminina de Letras e Artes Mossoroense.
Obrigada aos presentes pela atenção de ouvir-me e estar conosco nesta data tão importante para AFLAM e para MOSSORÓ.

Maria Conceição Maciel Filgueira
Presidenta da AFLAM

Nenhum comentário:

Postar um comentário