domingo, 24 de junho de 2012

MULHER ATUAL - RECONSTRUÇÃO DE UM MODELO DE SUBMISSÃO

 Joana d´Arc Fernandes Coêlho
AFLAM – Cadeira 21

      Na Idade Média, as opiniões e os conceitos prevalentes sobre as mulheres foram elaborados pelos eclesiásticos dotados de uma visão dicotômica expressa nas figuras da mulher culpada pelo pecado original (Eva, personificada como a pecadora), ou de bruxas que conspiravam dominar o mundo; e, por outra, contraditoriamente, a enaltecida como a Virgem Maria, a mãe do salvador. Os textos teóricos do cristianismo foram referências para os homens da época, cujas idéias eram fixadas na figura da mulher como criatura débil e sensível ás tentações do demônio. Por conta do estereotipo dessa imagem, a história da mulher na Idade Média fez parte de um tempo de grande desprestígio pelos historiadores. A economia colonial gerou a formação de uma sociedade, na qual a mulher ocupava uma posição bem inferior em relação ao homem, tanto econômica como socialmente, o que a fez permanecer á margem da sociedade e da historiografia brasileira.
      Essa construção da identidade feminina concebida muito antes do cristianismo, foi assegurada pelo mesmo, atravessando séculos, fato que concorreu para fortalecer o poder do homem.  Todo esse tempo, período que se estende até o século XVIII, foi considerado como um estigma muito pesado para as mulheres.

      Como o passar dos tempos, essa concepção da secular marca cultural da submissão foi se desconstruindo, silenciosamente, a partir das oportunidades em que as mesmas passaram a ter pelo direito de participar cada vez mais, da construção de suas vidas e do mundo circundante, rompendo com o atávico isolamento que as mantinham alienadas. O rompimento com a submissão fez com que as mulheres construíssem uma nova figura contrariando o passado, onde não podiam se expressar, votar, trabalhar entre outras atividades. As mulheres da atualidade passaram a possuir o direito de fazer muitas outras coisas, deixando para trás, o culto á figura submissa, dando lugar para a mulher modernas, possibilitando-as a saírem de suas casas e irem á luta em busca dos seus direitos, compartilhando suas experiências compreendendo melhor o seu corpo, seus prazeres, desejos, fantasias, inseguranças e medos em relação ao enfrentamento com uma nova idéia; a idéia da luta pelo direito á liberdade de conviver em sociedade numa relação de igualdade com os homens.
     O rompimento com a secular idéia da mulher submissa, passa pelo processo da ressignificação de valores emergindo nas sociedades, a figura de uma nova mulher; a mulher profissional no mercado de trabalho, em diversas áreas, tendo como fator inovador e motivador a aceleração do processo de desenvolvimento econômico, a industrialização e a rápida urbanização global, além, e de forma particularizada, o arrocho salarial obrigando a mulher a se empregar para ajudar no orçamento familiar. Essa revolução de costumes que varreu o Ocidente, nos anos 60, contribuiu decididamente, para que as mulheres descobrissem o seu valor.
     Em 1980, as mulheres passaram a ocupar 80% dos novos empregos criados na economia americana. No Brasil, o fenômeno em menores proporções, também, passou a acontecer. Os movimentos das mulheres de diversos segmentos e intenções trouxeram para a população feminina, novas perspectivas em relação á sua emancipação social e política na sociedade.
     A ousadia das mulheres, á partir da efervescência do movimento feminista, no século XX, concorreu para a efetivação de grandes avanços em relação á conquista dos seus direitos sociais, em destaque a luta pelo voto feminino, o reconhecimento do profissionalismo, a igualdade entre homens e mulheres, a incorporação de avançados conhecimentos das ciências, como a conquista do espaço, o progresso da descoberta do átomo, a aceleração da economia, a velocidade da informática, os avanços da medicina, entre outras ocorrências, fizeram com que a mulher passasse por profundas transformações, como a silenciosa revolução das mentalidades.
    As mulheres do século XXI são as protagonistas da construção dos novos paradigmas acerca da cidadania vista pelos parâmetros instituídos pela realidade atual da globalização, permitindo romper com a discriminação e diferenças entre homens e mulheres, como reafirma o compromisso da Declaração de Beijing considerando-se na essencialidade, a igualdade de direitos e a dignidade humana intrínseca de mulheres e de homens, (...).

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