domingo, 24 de junho de 2012

DE FAZENDAS À FREGUESIA, DE FREGUESIA A VILA, DE VILA Á SEGUNDA MAIOR CIDADE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE: DE MOSSORÓ MENINA Á MOSSORÓ MULHER.

 Joana D´Arc Fernandes Coêlho
AFLAM – Cadeira 21
     
        No século XVIII, numa determinada localidade, situada entre um rio e um lago de água potável, surgem varias fazendas habitadas por pequenas populações restritas a vaqueiros, criadores e procuradores, responsáveis pela administração de cada fazenda, já que os proprietários-donatários residiam em outros locais. A história conta, que as primeiras famílias a se fixarem de forma definitiva, ás margens do rio, se espalhando por outras localidades, foram as Gamboa, Guilherme e Ausentes. A privilegiada condição físico-geográfica da localidade era favorável a habitabilidade, atraindo outras famílias, como a do português Antonio de Souza Machado, Sargento Mor, proprietário da Fazenda Santa Luzia, que nos seus desejos ansiava povoar o local, fato esse que se consagrou através da construção de uma capela, que levaria o mesmo nome da fazenda, sendo fundada oficialmente, em 05 de agosto de 1772. Esse marco histórico deu inicio á construção do embrião de um povoado advindo da concentração das fazendas, da busca pela extração do sal, já que entre cartas e documentos foi atestada, pelos idos de 1600, a existência de salinas na região. No continuum da evolução histórica, esse pequeno povoado, passa a ter a posse da terra como exercício da cidadania, dando assim vida ativa ao território, se concretizando as relações sociais, as relações de vizinhança e solidariedade e as relações de poder.
       Antes da cidade houve a pequena povoação, a aldeia, a capela. De Fazenda denominada de Santa Luzia ao status de Freguesia. Na freguesia a população mesmo muito restrita, situada nos arredores da capela, começa a desenvolver um processo de relação simbiótica entre povoado e território e, dessa relação inseparável foi se construindo uma nova interpretação sobre a própria dinâmica do cotidiano vivido entre as pessoas, o território e as peculiaridades da localidade. O lugarejo cresce, deixando para trás o status de freguesia, pela conquista de um novo status social e político, sendo elevado á categoria de Villa, legitimada mediante a proclamação da lei Nº 241, em 15 de março do mesmo ano. 

      As mudanças na localidade continuam se dando nos tempos.  Com a morte do Sargento-Mor Antonio de Souza Machado, as glebas de terras passaram a ser doadas pela viúva, e, o povoado foi experimentando um crescimento populacional mais intensificado. Outro fator histórico, marcante no enraizamento e no aceleramento do crescimento da localidade, foi a demolição da capela de Santa Luzia, (após dez anos), para ser reconstruída, investida na categoria de Matriz, Catedral Diocesana, mediante a criação da Diocese de Mossoró. Associados a esses fatos históricos, simultaneamente, a Vila é elevada á categoria de município em 09 de novembro de1970. Emancipada descaracteriza-se a Mossoró Menina e surge a Mossoró Mulher. Investida legitimamente, do status de cidade, a localidade começa a se expandir, interagindo com o seu próprio convívio, pela inovação das relações sócio-culturais, refeitas pela sua própria dinâmica interna e externa. Começa um novo resplandecer no cenário paisagístico da localidade. As mudanças surgem através das novas edificações de dimensões concretas, como casas de comerciantes importantes da cidade, e os pensamentos de idealistas com a  implantação do  “Colégio Diocesano Santa Luzia e a casa do Mercado”.
      Definida a posição físico-geográfica do território, circunscrito aos seus limites, ás suas dimensões concretas e idealistas, a cidade tem um nome. Nome esse derivado a partir de várias controvérsias. O nome Mossoró é de topônimo controverso, pois há várias referências entre as quais o que provém da palavra indígena mbo-çoro. Mas, das controvérsias toponímicas, o mais provável e sensato é o nome que provem da tribo Cariri, do Monxorós ou Mouxorós, índios que habitavam na região pelos idos da metade do Século XVIII, justamente o século do povoamento de Mossoró. Por outra, há os que supõem ser o nome derivado  de “Mororó”, árvore resistente e flexível.
     Da simples calmaria, das belezas naturais das fazendas, do rio, das salinas identificadas no período da Mossoró Menina, emergena história do lugar e dos sujeitos construtores, a Mossoró Mulher a cidadela concebida como uma fortaleza de domínio e de defesa de sua própria cidade. Consagrada pela emancipação política de cidade rompe, de acordo com a silenciosa revolução de mentalidades, ao longo do século, vai aos poucos desfiliando-se dos remotos costumes (sem exclusão), em nível cultural, sócio-político e econômico, pela conquista da civilização, fator construtor de defesa dos reais interesses e direitos alicerçados nos saberes e pensares materializados pela coragem dos homens e das mulheres mossoroenses.
     Mas, para chegar á maturidade de Mossoró Mulher etornar-se um território próspero, conta os antecedentes de sua história, que muitos fatos sociais e políticos aconteceram através das iniciativas assumidas pelos sujeitos construtores da cidadania, os quais se enveredaram pelos movimentos sociais, nas lutas pelas conquistas de direitos, nas manifestações de resistência, fatores esses que alavancaram os desideratos dos sujeitos construtores da história de Mossoró.
     Dentre tantos feitos históricos acontecidos em Mossoró, destacam-se os atos libertários. Pelos idos de 1875 acontece uma revolta das mulheres mossoroenses, ao protestaram contra a obrigatoriedade do alistamento militar de seus maridos e filhos, para o Exército ou Marinha. Cerca de 300 mulheres foram às ruas e fizeram como refém o escrivão da paz, invadiram as repartições públicas e delegacias, armadas de pedras e pedaços de pau, resgataram os livros e papéis que recrutavam seus maridos e filhos para lutar na Guerra do Paraguai.  E, em praça pública rasgaram esses documentos. O movimento denominado Motim das Mulheres, Guerra das Mulheres ou Revolta das Mulheres, teve como principal palco a Sede do Jornal “O Mossoroense”. Entre as mulheres lideres da revolta que mais se destacaram foram Joaquina de Souza, Maria Filgueira e Anna Rodrigues Braga, (mais conhecida como Anna Floriano), que teve a coragem de defender o jornal. A história conta que esse movimento teve uma conseqüência histórica semelhante á Inconfidência Mineira, quando algumas das revoltadas, foram escolhidas a serem condenadas á morte por enforcamento ou fuzilamento.
     Outro fato de grande importância histórica foi o da Abolição da Escravatura que ocorreu em 30 de setembro de 1883, cinco anos antes da proclamação da Lei Áurea, considerado o primeiro município potiguar a abolir a escravidão. A partir dessa data o movimento abolicionista, alcança o seu objetivo, com o reconhecimento oficial da abolição da escravidão. Na história de Mossoró, essa data, passou a ser muito importante, sendo consolidada como feriado municipal, desde 1913
     Outro ato libertário ocorreu pelos idos de 1927, quando os cidadãos de Mossoró resistem, com coragem, as ameaças feitas pelo bando de cangaceiros comandado por Virgulino Ferreira da Silva, popularmente conhecido por Lampião, o mais temido da época, no Nordeste brasileiro. Em 13 de junho do mesmo ano, o bando que já tinha ameaçado invadir a cidade em troca de um resgate de 400 reis, o que lhe foi negado, concretiza a invasão sem saber o nível da coragem e resistência dos seus cidadãos, para o enfrentamento da luta, fato que fez o bando recuar sem atingir os seus propósitos. Mossoró vence, com resistência organizada, a luta contra o bando de Lampião.
     A cidade cresce e caminhando paralela á evolução histórica da modernidade do Brasil, enfrenta as adversidades próprias de um desenvolvimento urbano e intra-urbano, nos mais diversificados ângulos econômico e populacional, em relação á problemática social de emprego e renda, a valorização do desenvolvimento humano e social, as desigualdades sociais e as desigualdades entre municípios e intra-municípios. Todos esses fatores adversos historicamente vêm ao longo dos tempos, contribuindo para o crescimento e á maturidade da Mossoró Mulher, dando uma maior visualização dos alcances e limites das próprias políticas públicas ou de iniciativas da sociedade civil.
     A sua história rica em detalhes e do pioneirismo de muitas coisas passa a se enquadrar nos parâmetros da política urbana. O processo da maturação não foge á realidade das diferenças entre as áreas enfrentando as desproporções no tocante a equipamentos públicos, ocupação das áreas públicas, tipo de habitação, serviços de saneamento e das diferenças que surgem e se instalam especialmente, em relação aos considerados espaços periféricos, dotados de parca infra-estrutura. O meio ambiente urbano passa a ser um determinante do comportamento humano. No continuum dos séculos, essa Mossoró Mulher emancipada, enfrenta o seu desenvolvimento e crescimento econômico e populacional, os contrastes das atividades, o modo de vida e as estruturas sociais tão diversas, onde se faz presente as contradições manifestadas pela relação exclusão/inclusão. A cidade Mulher se apresenta do ponto de vista urbano, como um conjunto, de um todo conjugado e harmônico, materializando-se a partir das características do meio ambiente artificial, do meio ambiente cultural e do meio ambiente natural e físico. 
    No hoje da modernidade, como cidade considerada de meio porte, atraente pelos seus investimentos se localiza entre as capitais Natal e Fortaleza, e investe no progresso que é a prova da inteligência e da grandiosidade do ser humano na caminhada para um estado de coisas voltado para a Justiça e a Razão.
    A cadeia do progresso se instala nos tempos e a Mossoró Mulher nessa nova fase,anuncia, de forma pacífica, a sua emancipação intelectual, moral, política, cultural, social, econômica e histórica.  O progresso de Mossoró se dá em todo seu território, comprovado em todos os setores. No setor primário a agricultura e a fruticultura irrigada se destacam pelas suas peculiaridades, sendo considerado o maior produtor de melão do Brasil. O setor secundário é o que mais rende na economia de Mossoró que juntamente com Natal, concentra os principais setores industriais do Rio Grande do Norte. Destaca-se a produção do sal e do petróleo, além da produção do cimento e da cerâmica. O setor terciário desponta como a maior fonte geradora do PIB mossoroense, destacando-se principalmente, o comércio, possuindo diversos centros comerciais, além das micro e pequenas empresas. Nos últimos anos a construção civil vem ganhando espaços na economia de Mossoró.
    A infra-estrutura é uma das principais características do território urbanizado considerando-se os equipamentos públicos de abastecimento de água potável, serviços de esgotos, iluminação pública, energia elétrica pública e domiciliar e vias de circulação, rede telefônica, coleta de águas pluviais, transporte coletivo e, os equipamentos comunitários que se referem á educação, cultura, saúde, lazer e similares. A oferta desses equipamentos urbanos e comunitários se enquadra nas exigências proclamadas pelo Estatuto da Cidade e se adéqua aos interesses e necessidades da população e de suas características locais. 
    O sistema educacional do município vem alcançando uma progressiva expansão tanto em relação a educação infantil, ao ensino fundamental, a educação de jovens e adultos, onde são agregadas várias instituições da rede do ensino publico nas escolas estadual e municipal, e do privado exercido nas escolas particulares. Quanto ao ensino superior destacam-se as Universidades: Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN), Universidade Federal Rural do Semi-Árido (UFERSA), Universidade Potiguar (UnP), Faculdade Mather Christi, Faculdade de Enfermagem Nova Esperança (FACENE). Além das instituições de ensino acima qualificadas as entidades culturais contribuem para o desenvolvimento da cultura destacando-se: a Academia Mossoroense de Letras (AMOL), a Academia Feminina de Letras e Artes Mossoroense (AFLAM), o Instituto Cultural do Oeste Potiguar (ICOP), Conselho de Folclore (CONFOL). Por estas representações institucionais na área da cultura visibiliza-se o desenvolvimento da intelectualidade, demonstrando-se ser uma cidade celeiro de produção de conhecimentos e promotora da cidadania.
     A história da Mossoró Mulher continua, sem interrupção, em sua verdadeira função social e política amparada pela Lei do Estatuto da Cidade, e segue se edificando nos tempos, como bem descreve MUMFORD que uma cidade deve ser equipada para armazenar e transmitir os bens da civilização e suficientemente condensada para admitir a quantidade máxima de facilidades num mínimo de espaço, mas também capaz de um alargamento estrutural que lhe permite encontrar um lugar que sirva de abrigo ás necessidades mutáveis e ás formas mais complexas de uma sociedade crescente e de sua herança social acumulada

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