quarta-feira, 28 de novembro de 2007

PARA NÃO ESQUECER DE MIM

Izaíra Thalita da Silva Lima
AFLAM - Cadeira 8

       Um dia de nostalgia. A música batendo suave lembrou-me como algumas coisas têm a capacidade de nos levar a uma viagem no tempo em poucos segundos. Parece que foi ontem: as lembranças da velha boneca de maria-chiquinhas, a colcha de retalhos sobre o sofá, as tardes de sítio do pica-pau-amarelo sentada no frio chão e cimento queimado. A luz entrando devagar em casa num corredor longo que geralmente me levava as melhores brincadeiras no quintal da casa da minha avó. Tudo isso, assim, num segundo ligeiro, ouvindo uma música, de canto de orelha, porque por um acaso, nem foi minha opção ouvir aquela canção naquele momento.
       Quando o primeiro toque apontou para a primeira frase da letra daquela canção, senti uma dorzinha no peito. Sabe aquela dor de saudade? Pois eu senti isso. Abri um sorriso, a pessoa do lado nada entendeu. Viajei no tempo, ai que saudades daqueles tempos. Era tudo tão divertido e perfeito. Me tornei uma pessoa tão séria, tão diferente do que era.

       A nostalgia me tomou todo o tempo. Trabalhei pensando na música, voltei pra casa e lá estava eu cantarolando a letra, tentando fazer aquele resgate de segundos de um sentimento tão bom e ao mesmo tempo tão ruim. Cheguei em casa e abri os armário. “Onde estavam as minhas fotos de criança”?, procurei, entre caixas, revistas velhas, objetos esquecidos. Sentei e olhei as fotos, tentando me lembrar de cada dia daqueles. Achei uma foto que parecia uma cena de tudo o que tinha imaginado, ouvindo aquela música: lá estavam a colcha de retalhos sobre o sofá, o sorriso banguela da menina que fazia a foto de frente para a televisão – porque na minha época ter televisão daquelas da caixa de madeira era algo pra se fazer uma foto posada – e as bonecas de maria-chiquinhas.
     Uma nostalgia boa, que vez por outra a vida me faz sentir, como se um apelo para que eu volte a me lembrar da pessoa que sou, que fui um dia e  pra que eu não me esqueça jamais disso.

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