domingo, 28 de novembro de 2010

SENTI-ME GRATIFICADA

Francisca Lenilda da Silva
AFLAM – Cadeira 09

Senti-me gratificada com o carnaval de Mossoró e tenho motivos concretos para este sentimento de gratidão.
Sempre acreditei que carnaval é algo que está além da estética e da competitividade. Para mim é um doa-se na brincadeira despudoradamente feliz.

E esta alegria espontânea, repleta de ludicidade se fez presente nos três dias em que as pessoas saíram para as ruas de Mossoró. Vi pessoas lindas divertindo-se como diria o cantor Chico César: “Brincando de liberdade no terreiro da alegria”.

Na terça-feira me senti empoderada e com este sentimento de pertencimento vi parte do que eu ajudei a construir, crescendo e ganhando forma.

Quando em 2000, Nonato Santos, Tony Silva, Augusto Pinto, Ivonete Soares e Eu, nos angustiamos com a tristeza que pairava na cidade, no período carnavalesco, pensamos que deveríamos fazer alguma coisa. Então cada um de nós, começou a lembrar do Carnaval da nossa infância, e então surgiu a idéia de trazer novamente para as ruas da Cidade, a alegria das bonecas gigantes, a Maria Espalha Brasa, esse folguedo carnavalesco, que divertia crianças e adultos nas décadas de sessenta e setenta, voltou para as ruas. 

Então, começamos o processo de produção e mobilização. Sem recurso financeiro imitamos as estratégias das crianças e dos adolescentes que brincam de urso. Fomos também, pedir apoio aos colegas para conseguir dinheiro para Nonato e Augusto comprar o material e confeccionar a boneca.


Optamos para a concentração ser feita no Bairro Santo Antonio, porque era onde existia o maior agrupamento de blocos e escolas de samba.

Utilizamos como ponto de apoio a casa de Tony Silva e aderiram à nossa astúcia: Mauricio de Oliveira, Geraldo Maia, Pacifico Medeiros, Marcio Dias, Julierme Torres, Otilia e Otílio e outros. 

E quando saímos à rua, para homenagear Duite, “o homem do Chocalho”, foi uma verdadeira Catarse. A emoção tomava conta da gente, saia pelos poros. Logo percebemos que havíamos acordado algo que estava adormecido no imaginário popular e que estávamos apenas cumprindo o nosso papel de artistas, professores, comunicadores, que é: “devolver às pessoas o que lhe pertence”. Sim, como disse, pertence a todos e a todas, não tem dono nem dona, é de quem gosta de brincar sem se preocupar se o carnaval do Rio de janeiro, do Recife ou o de Salvador é melhor, se está dentro dos padrões de beleza exigida pela elite.

Esse desejo exacerbado pela beleza pouco importa para os homens e mulheres, trabalhadores e operários que respondem para os governos, através do carnaval, que não estão vencidos, pode faltar saúde e educação de qualidade, mas os valores simbólicos sempre vão estar presentes no cotidiano destas pessoas, que tem a dignidade de se reconhecerem como são, com as caras de Monxoros, Tapebas, Cariris, Tapuias, Potiguares e Quilombolas. Assim somos, assim é a cara da nossa gente.

Então, só posso agradecer a todos e a todas que continuaram, organizando esta brincadeira salutar, e finalizo afirmando que todos e todas estão de parabéns. 

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